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Romper o silêncio das vítimas é um dos desafios em Montenegro

Romper o silêncio das vítimas é um dos desafios em Montenegro

cristianec

“A Organização das Nações Unidas (ONU) alerta que o lugar mais perigoso para meninos e meninas de zero a 10 anos é o lar. O abuso sexual não escolhe idade, cor e classe social”. Foi com este alerta que o Coordenador do Centro de Apoio Operacional da Infância e Juventude, Miguel Granato Velásquez, iniciou sua participação na III Jornada Estadual Contra a Violência e Exploração Sexual na noite de sexta-feira (07/10), no Teatro Roberto Atayde de Cardona, em Montenegro. “O objetivo é conscientizar e buscar alternativas para um problema que, a cada oito horas atinge uma criança brasileira”, lembrou Velásquez. Também alertou os educadores que podem ajudar a identificar uma situação de violência sexual, através de sinais como a mudança repentina de comportamento da criança ou adolescente.

O Promotor da Infância e Juventude de Montenegro, Thomas Henrique de Paola Colletto, lembrou que existem dois grandes desafios sobre o tema. O primeiro é romper o silêncio das vítimas, pois é “sabido que um número considerável de casos não chegam ao conhecimento das autoridades locais, o que impede uma medida de proteção às vítimas e garante a continuidade e perpetuação destes crimes”, alertou. O segundo é o fortalecimento e a articulação de uma rede de proteção, “pois não basta um Conselho Tutelar ativo se não temos um trabalho posterior de orientação e encaminhamentos”, salientou o Promotor.

O Coordenador do Gabinete de Articulação e Responsabilidade Social do Ministério Público, João Carlos Pacheco, que acompanha a Jornada, foi buscar no livro “As Meninas da Esquina”, da jornalista Eliane Trindade, um retrato de infâncias interrompidas. O livro traz como protagonistas meninas que tratam de assuntos que não têm nada a ver com criança. Vítimas de exploração sexual, seis adolescentes contaram em diários suas rotinas de pobreza, abusos, violações, mas também de sonhos e alegrias. Para o Procurador “a pobreza, miséria, dor levam ao embrutecimento, onde o sentimento se aniquila, a palavra soma e a violência impera”. E finalizou dizendo que precisamos ser otimistas e esperançosos, embora lembrando a frase proferida pelo médico psiquiátrica, José Blaya: “Nesta geração nada mais podemos fazer. Está perdida. A próxima dependerá daquilo que pudermos fazer hoje”.

A realidade regional foi apresentada por um grupo que numa ação conjunta ouviu conselheiros tutelares, professores, assistentes sociais e agentes de saúde de 19 municípios sobre o assunto. Os resultados apontaram para o enfraquecimento ou inexistência de uma rede de proteção à infância e juventude, a falta de políticas sociais e de estrutura para os conselhos tutelares, a criação de uma delegacia especializada na região e de um disque-denúncia municipal. “Esses foram alguns problemas levantados durante o estudo, com sugestões de algumas alternativas para começar a mudança”, destacou o conselheiro tutelar Rafael Faustino, um dos organizadores da pesquisa.

“Estamos nos engajando na jornada, temos muito a recuperar, pois o futuro de nossas crianças depende de nossas ações, e elas antes de serem filhas de seus pais, são filhas da nossa sociedade”, disse o prefeito de Montenegro, Percival Oliveira.

O evento também contou com a palestra da Coordenadora do Movimento pelo Fim da Violência e Exploração Sexual de Crianças e Adolescente do RS, Mariza Alberton. Ela discorreu sobre o abuso sexual e exploração sexual comercial de crianças e adolescentes. “Abuso sexual é toda situação em que um adulto se utiliza de uma criança ou adolescente para seu prazer sexual. Pode haver ou não contato físico”. Continuou lembrando que o abuso sexual intrafamiliar é a forma mais freqüente. Ocorre em todos os países do mundo, em todas as classes. Na maioria das vezes é praticado por alguém que a criança conhece, confia e ama, ou seja, o pai, padrasto, tio, avô. Finalizou dizendo que a forma mais comum de abuso sexual, que é a extra-familiar, ou seja, a exploração sexual comercial de crianças e adolescentes. “Aqui, além da criança, vítima do pedófilo, há um outro personagem, o aliciador. Este é um criminoso que ganha dinheiro com a venda do sexo de crianças e adolescentes”, frisou Mariza.

Na próxima sexta-feira (14/10), a III Jornada estará no município de Caxias do Sul.(Jor. Cristiane Pasquali Conceição)



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