Promotoria e grupo Educa-Ação visitam comunidade quilombola
A Promotoria Regional de Educação e o grupo Educa-Ação visitaram na quarta-feira, 4, a comunidade Quilombo do Algodão, próxima da Colônia Triunfo, em Pelotas. O objetivo foi observar a situação da educação e a forma como as pessoas vivem.
As dificuldades enfrentadas foram percebidas na visita. O difícil acesso, principalmente em dias de chuva, torna mais excludente a comunidade. A Promotoria e o grupo foram recebidos pelos moradores. O representante dos Quilombolas, Nilo, disse que existem 75 famílias na comunidade. A Associação comunitária Quilombola do Algodão conta com o apoio da Prefeitura, do Centro de Apoio do Pequeno Agricultor (CAPA) e do Centro de Apoio, Pesquisa e Tecnologias para Aprendizagem (Capta).
Nilo relatou que foi oferecido um curso de corte e costura para mulheres da comunidade. Contudo, elas não tinham como se deslocar até as aulas. A comunidade praticamente consegue emprego somente no verão, trabalhando no campo. No inverno sustenta-se com o auxílio do bolsa família. O promotor José Olavo dos Passos colocou o MP à disposição da comunidade, ressaltou a preocupação com a educação entre jovens e afirmou que a situação do transporte precisa ser resolvida para que os estudantes possam seguir frequentando as aulas.
O representante da comunidade mencionou que muitos moradores não têm documentos de identificação. Com isso, predomina o trabalho informal entre eles. Denunciou, também, problemas na área da saúde. Por não ter atendimento próximo, ao adoecer a pessoa costuma ser conduzida pelos donos das terras em que os quilombolas trabalhavam, até a cidade de Canguçu, para serem atendidos por um médico. A partir dessa programação da Promotoria e do grupo Educa-Ação, será elaborado um artigo para publicação com o intuito de servir como material de pesquisas.
EDUCAÇÃO
Segundo a professora da Escola Wilson Muller, Maria Helena, as turmas vão do pré até a sétima série, distribuídos entre turnos da manhã e tarde. O estabelecimento atende 110 estudantes, sendo que 20% deles são de comunidades quilombolas. De acordo com a educadora, os pais dessa pequena parcela participam somente quando solicitados pela escola, diferentemente dos outros. Acrescentou que é a instituição quem chama os responsáveis para reuniões. Porém, explicou que os pais desses alunos não aceitam os problemas explicitados pela instituição e tendem a não reconhecer os erros.
A respeito do dia a dia dos alunos, a educadora afirmou que os quilombolas costumam comentar sobre brigas que ocorrem em suas casas. Concluiu que elas são decorrentes do alcoolismo, cultural na região, tanto na colônia como nas comunidades. O uso de bebidas se dá desde cedo, na faixa de 12 anos de idade. Em geral, eles têm um comportamento mais agressivo. A professora acrescentou que a violência acontece de formas físicas e verbais, mas não ocorrem nas salas de aula. “Não é intencional, é que as brincadeiras deles são diferentes”. Porém, têm facilidade de integração com os demais alunos. Satisfeita, a professora comentou que o índice de aprovação da escola no ano passado foi de 90%, mas afirmou que o aproveitamento dos Quilombolas não é muito bom. Para ela, “a maioria não tem perspectiva de uma vida melhor”.
Ao ser questionada, a educadora apontou as principais necessidades da colônia. Entre elas estão a carência na área da saúde (a região não pode contar com serviços de emergência), ausência do Programa Saúde da Família (PSF), e de assistência social. (Por Marina Corrêa)