Bem-estar e prática de bullying são abordados em seminário
O Ministério Público sediou nesta quarta-feira, 4, o “Seminário Internacional Brasil / Canadá: Justiça Restaurativa, inovação e desenvolvimento social – um diálogo Norte-Sul”. Durante todo o dia, especialistas abordaram a Justiça Restaurativa, que é considerada um dos modelos mais eficientes para a resolução de conflitos, valorizando a figura da vítima.
O BEM-ESTAR INDIVIDUAL E AS ORGANIZAÇÕES
Pela manhã, o professor brasileiro João Salm, que coordena na cidade de Vancouver um projeto intercultural que foca a justiça social e a cidade, falou sobre a Justiça Restaurativa e as organizações. Salientou a devida importância que deve ser dada ao local onde ela está sendo implantada. “A Justiça Restaurativa tem valores calcados numa ética universal e vê o ser humano nas dimensões espiritual, emocional, física, social e política. Se essa é a perspectiva e esses são os valores, então o espaço e as organizações têm que estar de acordo com tais perspectivas”, destacou. Segundo ele, se uma empresa ou qualquer lugar tolher o lado espiritual, social ou político do ser humano, a liberdade individual de cada um é que estará sendo atingida.
TRABALHO COM ABORÍGENES
No Canadá, são os aborígenes que ocupam grande parte das vagas nas prisões. A professora Elizabeth Elliott, co-diretora do Centre for Restorative Justice e professora Assistente da Faculdade de Criminologia da Simon Fraser University da Columbia Britânica, no Canadá, apresentou a experiência de trabalhar a Justiça Restaurativa entre os indígenas daquele país. O trabalho de Elliott é no sentido de que a sociedade canadense acolha a cultura e a valorização da comunidade indígena. Na década de 1980, os aborígenes foram retirados de sua cultura e origem e colocados em escolas residenciais para assimilarem a cultura branca. Tal ruptura resultou numa escalada de tragédias, com o aparecimento de crimes violentos, tais como estupros, abusos sexuais e o uso de drogas e álcool. Crianças nativas foram vítimas de abusos psíquicos, sexuais e emocionais. Atualmente, conforme Elizabeth Elliott, o governo canadense colocou em funcionamento uma comissão de reconciliação para restabelecer a cultura indígena.
COMBATE AO BULLYING
A Justiça Restaurativa pode ser útil para combater o bullying praticado nas escolas. A opinião é da co-diretora do Centre for Restorative Justice e professora Assistente da Faculdade de Criminologia da Simon Fraser University da Columbia Britânica, Brenda Morrison. Para ela, a Justiça Restaurativa, ao colocar frente a frente opressor e oprimido para resolver uma situação de bullying, deve estabelecer o respeito entre eles, destacar a responsabilidade de ambos pelas ações e, ao final, que o dano causado seja reparado. Lembrando que a Justiça Restaurativa é a guardiã contra a desigualdade de poder e prima por valores de não dominação, Brenda Morrison pregou que os ambientes escolares precisam responder, de maneira muito clara, ao bullying. “As escolas devem passar mensagens fortes e precisam estabelecer limites claros”, frisou. De acordo com estudos realizados na Universidade de Cambridge, o combate ao bullying passa pelo treinamento de professores e pais para lidaram com a situação. A designação de um supervisor para monitorar os recreios nos pátios das escolas é uma ação que pode ajudar muito para coibir a prática, informou a professora.
Promovido pelo projeto Justiça Para o Século 21, o seminário teve o apoio do Ministério Publico do Rio Grande do Sul, Ajuris e parceria de outras entidades jurídicas.