MP ouve moradores do entorno da Celulose Riograndense em Guaíba
Ruído ensurdecedor durante 24 horas por dia, trepidação, fuligem preta gordurosa, forte odor, chuva de serragem, nuvem de fumaça e espuma são as principais queixas dos moradores do entorno da empresa CMPC Celulose Riograndense, localizada no município de Guaíba.
A comunidade teve a oportunidade de relatar seus problemas causados pela indústria em reunião na Promotoria de Justiça do Município, ocorrida na tarde desta segunda-feira, com os Promotores Raquel Isotton, que atua em Guaíba, e Alexandre Saltz, coordenador da Fiscalização Ambiental Integrada do MPRS, além de técnicos da Fepam.
INQUÉRITO
Tramita no Ministério Público de Guaíba inquérito civil que tem por objeto fiscalizar o cumprimento das condições e restrições impostas em licenciamento ambiental à empresa CMPC. Além disso, a indústria firmou um Termo de Compromisso com a Fepam, estabelecendo um cronograma de obras a serem feitas para minimizar os problemas relatados anteriormente, algumas vencendo em novembro deste ano e outras em abril de 2017. “Com essas outras questões que surgiram no encontro, como a chuva de serragem e espuma, não descartamos a possibilidade de exigências novas junto à empresa”, destacou a Promotora Raquel Isotton. “Faremos um novo encontro com a Fepam para tratar desses novos assuntos”, completou.
RELATOS
Durante a reunião, cada morador indicou no mapa a localização de suas residências e principais queixas, relatando inconformidade quanto à demora das soluções. “Antes mesmo de haver a abertura do expediente no Ministério Público houve uma série de encontros dentro da estrutura da CMPC para debater os problemas, sem que houvesse solução”, relataram.
Os representantes da comunidade contaram não poder abrir as janelas das casas para ventilar por causa da sujeira dos resíduos. Dizem também sofrer bullying social até mesmo na internet. Algumas tiveram que desativar partes das casas que ficam na direção da empresa por causa do barulho e da fuligem. Há também reclamações sobre a intensidade das luzes da fábrica “parecendo que é dia dentro da casa à noite, mesmo com as persianas fechadas”.
Uma moradora apresentou documentos relatando que foi afastada do serviço porque não consegue dormir, em razão do medo de que a fábrica de cloro cause vazamento e atinja seus filhos e em razão do alto ruído.
Foram apresentadas, ainda, reclamações acerca da modificação do Plano Diretor do Município. Conforme os presentes, não houve audiência pública para alteração do zoneamento urbano, alteração esta que possibilitou à empresa trabalhar com ruídos na intensidade atual, prejudicando o funcionamento de quatro escolas no entorno da fábrica.
Por fim, Alexandre Saltz destacou que, além da resolução das questões apontadas, há a necessidade da comunidade ser informada em tempo real acerca do funcionamento dentro da fábrica, a fim de desmitificar os perigos gerados por esta.
“Percebemos que as providências adotadas pela empresa não foram eficazes”, disse Raquel Isotton, afirmando que o Ministério Público vai tomar providências mais intensas frente à poluição gerada pela CMPC.
Participaram da reunião o Geólogo com atuação no MPRS, Nilo Sérgio Barbosa; os Engenheiros Químicos Analistas da Fepam Renato das Chagas e Silva, Diego Borges e Fabiani Ponciano Vitt Tomaz; o Presidente da Associação dos Moradores do Bairro Alegria, Sérgio Augusto Pinto; e os representantes da comunidade local Carolina Coutinho, Aline Velloso, Cristiane Montemezzo, Kátia Cardoso de Souza Vieira, Saionara Montemezzo, Jussara Brito, Volair Ribeiro Martins,Túlio Carvalho e Antônio Prates.