Ação prende policiais em Torres
Quatro policiais civis lotados na Delegacia de Polícia de Torres e acusados de extorsão foram tirados de circulação na tarde desta quarta-feira. A ação deflagrada na cidade litorânea surpreendeu os policiais que, durante uma investigação de rotina, não cumpriram com o dever e desrespeitaram a lei. As prisões preventivas solicitadas pelo Ministério Público à Justiça de Torres foram efetuadas por agentes da Corregedoria-Geral da Polícia Civil – Cogepol. A operação foi acompanhada pelo corregedor-geral da Polícia Civil, delegado Pedro Urdangarin, que seguiu com os detidos para Porto Alegre.
Os investigadores Fábio Walter Pereira Caminha, Gilmar Rosado Reginaldo, Jonas Aguiar de Carvalho e Élbio Carlos Bock, teriam sidos detidos em suas casas, anunciou a Cogepol, mas a Imprensa continuou na frente da DP suspeitando que dois deles, pelo menos, ainda se encontravam no prédio. Perto das 19h, dois dos implicados saíram escoltados dentro de uma viatura discreta, vaiados por pessoas da comunidade. Eles são acusados de extorquir dinheiro de um receptador de carros furtados e roubados para não levá-lo preso. O crime está tipificado no artigo 158 do Código Penal. A pena prevista é de quatro a 10 anos de reclusão. Quando é cometido por duas ou mais pessoas e com emprego de arma, é aumentada. Tratando-se de funcionários públicos, pode haver perda da função.
QUARTETO
O promotor de Justiça Mauro Rockenbach, que coordenou a “Operação Quarteto”, explicou que a Especializada Criminal de Porto Alegre chegou aos policiais implicados ao iniciar, há dois meses, uma investigação para apurar a receptação por Charles Caus, 32 anos, de veículos furtados e roubados em Caxias do Sul e Farroupilha. O “Alemão”, como é conhecido, possui antecedentes criminais e é dono de uma loja de autopeças, em Torres. Ele estava sendo monitorado pelos agentes da Força-Tarefa do Ministério Público através de fotos, filmagens e acompanhamento direto.
EXTORSÃO
No dia 11 de setembro, frisou o Promotor de Justiça, o estabelecimento de “Alemão” foi invadido por policiais civis que buscavam peças de carros furtados e roubados, mas não efetuaram sua prisão. Os investigadores, no entanto, levaram um Corsa desmanchado, com placas de Farroupilha, para um depósito. Neste dia, os mesmos policiais retornaram à loja de “Alemão” e exigiram R$ 10 mil para não prendê-lo e incomodá-lo mais. Rockenbach disse que R$ 3 mil foram entregues aos policiais dois dias após. Três dias depois, mais R$ 2,2 mil foram passados por “Alemão”. As quantias em dinheiro foram recebidas dentro de viaturas.
RELATÓRIO
O acompanhamento feito pelos agentes da Força-Tarefa junto ao comerciante extorquido apurou que os policiais o mandaram levar todas as peças furtadas e roubadas para sua casa. Em seguida fizeram um relatório ao delegado de Polícia Celso Alan Jaeger incriminando “Alemão” por receptação. No dia 22 de setembro o Delegado de Polícia obteve da Justiça um mandado de busca e apreensão no estabelecimento do comerciante. Antes do cumprimento do mandado os policiais ordenaram que o comerciante saísse da cidade. Na batida policial foram recolhidas caixas de câmbios, pára-lamas, capôs, portas e motores de carros e, ainda, cinco veículos furtados: Fiat Uno Mille, Kadet, Gol GTS, Quantum e Gol Mil.
AMEAÇA
A investigação do Ministério Público apurou que a ação da Polícia deixou “Alemão” indignado e com vontade de denunciar os investigadores que lhe extorquiram dinheiro. No dia 25 de setembro, quando o promotor de Justiça Mauro Rockenbach foi informado de que o Delegado de Polícia de Torres havia solicitado à Justiça a prisão preventiva do comerciante, o Ministério Público pediu uma cópia da decretação da prisão e chegou ao estabelecimento antes da Polícia para prendê-lo. Rockenbach ressaltou que “a partir do momento que o receptador, que estava revoltado, ameaçou abrir a boca, alardeando que entregaria os investigadores, pensamos na sua integridade física”.
RECONHECIMENTO
O Promotor Criminal contou que “Alemão”, antes de ser recolhido à Penitenciária Modulada de Osório, foi encaminhado ao Fórum de Torres, onde prestou depoimento à juíza Fabiana Latuada relatando toda extorsão sofrida. Na tarde de ontem, o comerciante-receptador reconheceu, através de fotos, os policiais que lhe extorquiram dinheiro. As fotografias foram levadas até o presidiário por Mauro Rockenbach, que encarou a prisão dos policiais civis com “sentimento de profunda tristeza, porque são funcionários que deveriam estar combatendo esse tipo de crime, mas preferiram alguns vinténs no bolso”.
QUADRILHA
Na continuidade das investigações, a “Operação Doublecar” prendeu, na noite passada, no posto Rota 80, na Freeway, integrantes da quadrilha que se dedicavam a furtos, roubos, desmanches e clonagens de veículos. Dois, de Torres, aguardavam uma camioneta D-20 furtada em Caxias do Sul por cinco membros da quadrilha baseada na região serrana. Um deles é Valdeci João de Oliveira, que “orquestrava” as negociações e encomendava os carros. O outro é Vagner Guerino Fabres, considerado um dos maiores “puxadores” de veículos da serra. Também foi detido Peter Nunes Goulart, um mecânico foragido do Instituto Penal de Mariante. Ele receberia a camioneta para adulteração do chassis, deixando-a adequada ao documento de uma outra com as mesmas características.
MONITORADOS
Toda a ação da quadrilha foi monitorada pelos agentes da Força-Tarefa através da interceptação telefônica. O promotor Mauro Rockenbach disse que foi possível acompanhar a combinação realizada “quanto ao local, horário de entrega e forma de pagamento”. Além da D-20 furtada em Caxias do Sul, foram aprendidos um Pólo, um Uno Mille, uma Pálio, R$ 6 mil e celulares. Os detidos foram levados à DPPA de Gravataí, onde foi lavrado o flagrante antes de serem encaminhados ao Presídio Central.