Adriano confessa apenas um assassinato
“Sou inocente e os fatos imputados contra mim não são verdadeiros!”. A declaração, que surpreendeu muitas pessoas, é do paranaense Adriano da Silva, 28 anos, que, às 9h desta terça-feira, começou a ser julgado pela morte do engraxate Alessandro Silveira, 13. O Salão do Júri do Fórum de Passo Fundo está lotado. É grande a expectativa da comunidade que clama por justiça. Este é o primeiro julgamento do homem que, durante quase dois anos, aterrorizou a região norte do Estado. Embora tenha confessado o assassinato de 12 crianças, Adriano é acusado, formalmente, em oito casos: cinco em Passo Fundo, um em Lagoa Vermelha, um em Sananduva e outro em Soledade. O Conselho de Sentença é composto por sete homens. Os jurados foram definidos dentre 21 cidadãos do município, sorteados para a sessão que é presidida pelo juiz Sebastião Francisco da Rosa Marinho. O promotor de Justiça Fabiano Dallazen, designado pelo Procurador-Geral de Justiça do Rio Grande do Sul, representa o Ministério Público no plenário.
DENÚNCIA
O réu foi denunciado pelo Ministério Público de Passo Fundo por dois crimes: homicídio duplamente qualificado – pela dissimulação usada para atrair a vítima e o meio cruel empregado para consumar o fato – e ocultação de cadáver. O homicídio ocorreu em março de 2003, no bairro Petrópolis, mas a ossada do menino só foi encontrada seis meses depois, em 20 de setembro. Adriano da Silva que, conforme aponta o laudo do Instituto Psiquiátrico Forense (IPF), “tem transtorno de personalidade anti-social, além de traços de pedofilia e necrofilia”, matou o garoto por asfixia. Ele atraiu Alessandro até um lugar ermo da cidade prometendo dar-lhe dinheiro para cortar grama em uma chácara.
PROCESSO
O biscateiro Adriano, que, após a promessa de dinheiro e presentes, também matava suas vítimas com golpes de artes marciais, admitiu ter tido relações sexuais com alguns dos garotos depois de mortos. Desde janeiro de 2004 ele se encontra recolhido à Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (PASC). O promotor de Justiça Fabiano Dallazen não antecipa sua estratégia de acusação para o júri que deverá terminar no final da noite desta terça-feira. O réu é defendido pelo defensor público Artur Costa. O criminalista Jabs Paim Bandeira atua como assistente de acusação. O processo tem mais de 700 páginas.
INTERROGATÓRIO
O réu, que possui uma condenação por latrocínio no Paraná, iniciou seu depoimento às 9h30min. Disse ser de família pobre e que, na sua infância, sofreu abusos e agressões. No entanto, não quis comentar esse assunto na frente do Juiz. No plenário, o biscateiro confessou ser responsável apenas por uma morte: a do menino que vendia picolé em Sananduva. Adriano contou que estrangulou e, após, manteve relações sexuais com a vítima. Quanto sua declaração dada na Delegacia de Polícia de Lagoa Vermelha, onde narrou os demais crimes com detalhes, afirmou que fez sob coação. Entretanto, não revelou o motivo que o levou assumir as mortes de 12 crianças.
O biscateiro sublinhou que acompanhava os noticiários em torno dos assassinatos e, além disso, “fui atualizado para confessá-los”. “Eles sabiam a localização dos meus familiares”, frisou Adriano, ressaltando que, também, usava seguidamente os nomes de seus dois irmãos para se identificar. O paranaense assinalou que, em Juízo, seguiu assumindo as mortes dos meninos “porque estava sendo ameaçado”. O homem que está escoltado sob forte segurança e confessou ter mantido relações sexuais com pelo menos quatro crianças mortas, falou, ainda: “sentia-me culpado de tudo quando olhava as notícias!”. O promotor de Justiça Fabiano Dallazen não acredita na versão do réu e irá provar que ele “é o verdadeiro culpado”.
Após o interrogatório do réu, foi lido em plenário o libelo acusatório. O Júri está suspenso para intervalo do almoço e recomeçará às 14h na fase de leitura de peças indicadas pelo Ministério Público e a defesa.