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Lançada 4ª turma do Apadrinhamento Afetivo

Lançada 4ª turma do Apadrinhamento Afetivo

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O Ministério Público é parceiro da ONG Amigos de Lucas, responsável pelo Programa. Até agora, 165 crianças foram beneficiadas

Em Porto Alegre, há uma fila imensa de pessoas que desejam adotar uma criança. O que poucos sabem é que existe também uma outra: a de crianças e adolescentes que desejam ter uma família ou receber mais afeto, mas são esquecidas. São crianças com idade acima de dois anos, negras, portadoras de deficiência ou do vírus HIV. Elas fogem ao padrão tradicional de busca idealizado pelos casais, que querem adotar crianças brancas, com menos de três anos e preferencialmente meninas. Como fica, então, quem está na outra fila? Eles vivem em abrigos, locais que, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, deveria recolhê-los apenas como uma medida "emergencial e temporária". A realidade, no entanto, é diferente. "Os abrigos se tornaram casas, onde as crianças continuam crescendo sem o direito de voltar à família de origem, de serem colocadas em famílias ampliadas ou de serem destituídas do pátrio poder para conquistar uma nova família", diz a jornalista Helena Martinho, fundadora e presidente de honra da organização não-governamental Amigos de Lucas que, desde 1988, trabalha pelo direito à convivência familiar e comunitária. Para resgatar nos meninos e meninas que vivem em abrigos os referenciais de uma família surgiu o Programa de Apadrinhamento Afetivo. Desde 2002, 165 crianças e adolescentes da capital gaúcha encontraram padrinhos e madrinhas dispostos a serem responsáveis pelo futuro de quem tem pouca chance de ser adotado.

Mais um passo foi dado pelo Projeto, que tem a parceria do Ministério Público e Poder Judiciário, na última segunda-feira (10), no Palácio do Ministério Público, em Porto Alegre, com o lançamento da 4ª turma de padrinhos e madrinhas.

No ato, o coordenador do Centro de Apoio Operacional da Infância e Juventude Miguel Velasquez ressaltou que o Ministério Público trabalha "para evitar ao máximo o abrigamento de crianças e adolescentes". Por isso, segundo ele, a instituição "recebe com alegria o surgimento de pessoas que acolhem as crianças e dão o carinho e a atenção até que ela tenha um local para viver de forma definitiva". O coordenador destacou, ainda, que o Projeto Apadrinhamento Afetivo é feito por "pessoas que querem o bem", num mundo "onde os referenciais éticos estão caindo a cada dia".

A juíza de Direito Vera Lúcia Deboni, agregou que o Tribunal de Justiça gaúcho reconhece o Programa Apadrinhamento Afetivo como exemplo de que, quando a sociedade civil quer, consegue "ser responsável pelo presente e futuro da nação". Por sua vez, o juiz de Direito José Antônio Daltoé Cezar classificou o programa "como uma alternativa viável à adoção que não consegue ser efetivada em muitos casos e dá ao adolescente a esperança de ter um referencial fora dos abrigos".

Para ser um padrinho afetivo, o interessado passa por um processo de preparação, que inclui entrevista, participação em oficinas e encontros com o possível afilhado. Foi o que ocorreu com Elaine Regina Lopes, madrinha de um criança da última turma. Para ela, a preparação, que durou dois anos, tirou dúvidas e abriu caminho para grandes mudanças. "A gente achava que era apenas para ajudar uma criança, mas descobrimos o quanto temos de afeto sobrando que pode ser dado para aqueles que nada têm", afirma.

A presidente de honra do Instituto cobra uma mudança de postura no trato com crianças e adolescentes que estão em abrigos. "A sociedade é incompetente porque clama por mais abrigos. O Estado é incompetente porque continua criando mais vagas e nós somos incompetentes por não darmos um referencial único de identidade e afeto aos abrigados”, finaliza Helena Martinho.



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