Desmantelada quadrilha que roubava dólares
Buscando desarticular uma organização criminosa envolvida em delitos de estelionato, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro, foi deflagrada cedo da manhã desta segunda-feira, a “Operação Paranhana”. São 28 mandados de busca e apreensão e, também, de prisão, que estão sendo cumpridos de forma simultânea no Rio Grande do Sul e em outros estados do Brasil.
Somente no Estado, 18 mandados foram expedidos pela Justiça à Promotoria Especializada Criminal da Capital, que capitaneia toda a operação. A ação, batizada de “Paranhana” porque o núcleo da quadrilha está radicado em Taquara, transcorre na capital gaúcha e nos municípios de Montenegro, Caxias do Sul, Passo Fundo, Carazinho e Palmeira das Missões, assim como em cidades situadas em Santa Catarina, São Paulo, Goiás e no Distrito Federal. Até agora 23 pessoas já foram presas - 15 dentro do Estado, três em Santa Catarina, quatro em Goiás e um em São Paulo. Em Taquara, sete quadrilheiros foram detidos ainda no domingo e recolhidos ao Presídio Municipal.
INTERCEPTAÇÃO
A “Operação Paranhana”, que somente no Estado mobiliza 15 agentes da Força-Tarefa do Ministério Público e mais de 70 da Brigada Militar, Polícia Rodoviária Federal e da Cogepol – Corregedoria da Polícia Civil, é coordenada pelo promotor de Justiça Frederico Schneider de Medeiros. Os promotores de Justiça Mauro Lúcio Rockenbach e João Nunes Ferreira atuam com equipes, respectivamente, em Caxias do Sul e Porto Alegre. Os quadrilheiros, que só no Rio Grande do Sul lucraram mais de 1,3 milhões de dólares aplicando cerca de 14 golpes em empresários gananciosos, vinham sendo investigados há um ano. O monitoramento da quadrilha no País, que possui co-líderes e o envolvimento de policiais civis e militares, culminou na interceptação de 145 mil ligações telefônicas.
VÍTIMAS
Os criminosos, que quando agiam sempre estavam bem trajados de terno e gravata e tripulavam carros importados, usavam como arma o “verbo”. O bando costumava utilizar “corretores” – pessoas bem-falantes – que identificavam e apontavam vítimas em potencial para roubar dólares. Os primeiros contatos eram feitos por telefone para agendar uma visita ao empresário alvo. Os membros da quadrilha, que portavam celulares prefixos 61, de Brasília, se apresentavam como pessoas importantes e com vínculos com o Congresso Nacional. Para atrair a vítima, geralmente ofereciam automóveis com 30% de desconto e dinheiro que diziam ser “sobras de campanha eleitoral”.
CÉDULAS
Foi assim que um empresário da região sul do Estado, que estava na mira dos quadrilheiros, caiu na lábia dos malfeitores e perdeu 50 mil dólares. Após ser fisgado, participou de reuniões com o bando em apartamentos locados em cidades da serra gaúcha. Num determinado momento da negociação, os ladrões mudaram totalmente a proposta e lhe ofereceram reais em troca de dólares, com margem de lucro de 20%. Para convencê-lo, disseram estar visados por doleiros, que faziam transações com casas de câmbio do Uruguai e, principalmente, que tinham relacionamento com servidores da Casa da Moeda. Para demonstrar e provar como conseguiam cédulas verdadeiras de reais, montaram um pequeno laboratório utilizando o que diziam ser a matriz do processo de fabricação de uma nota de R$ 100, que estava coberta por uma película preta, líquidos reagentes e luzes infravermelhas.
GOLPE
Impressionado com a emissão de cédulas e com a possibilidade de ganho fácil, o empresário não resistiu e topou fazer o negócio. Os dólares foram colocados numa pasta e entregue aos quadrilheiros que pediram para que seguisse o carro deles até um sítio situado em Nova Petrópolis para fazer a troca por reais. Numa estrada vicinal, a quadrilha montou uma farsa teatral empregando carros da Polícia numa perseguição com disparos de revólveres para fazer parecer uma “batida policial”. Assustado, a vítima fugiu e ficou sem os dólares. Ao entrar em contato com os homens que ficaram com seu dinheiro, as desculpas foram muitas. Uma delas é que o dinheiro foi apreendido na operação policial. Esse golpe foi aplicado mais de dez vezes no Estado.
TOCAIA
Na investigação, agentes da Força-Tarefa do Ministério Público chegaram alugar um imóvel em frente da mansão de três andares locada pela quadrilha para atrair as vítimas, em Nova Petrópolis. Durante a tocaia puderam testemunhar o desespero de um empresário catarinense que largou nas mãos dos ladrões 110 mil dólares que seria a entrada de uma transação em que iria receber R$ 1 milhão. Agentes da Força-Tarefa também estiveram em São Paulo, aonde chegaram a tempo de evitar que um cabeleireiro de renome que trabalha em um shopping da cidade entregasse 700 mil dólares à quadrilha.