Caso Bernardo: mais de 15 horas de julgamento no quarto dia do júri
O quarto dia do julgamento dos réus acusados pela morte do menino Bernardo Boldrini, ocorrida em abril de 2014, nesta quinta-feira, 14, foi marcado pelas manifestações de acusação e defesa em sessão que durou mais de 15 horas. O tempo de debates no júri foi ampliado, a pedido das defesas dos quatro réus. Cada advogado ficou com uma hora para apresentar suas teses defensivas, cabendo ao Ministério Público, consequentemente, quatro horas para acusação. Pelo rito, os promotores de Justiça iniciaram os debates.
O promotor de Justiça de Três Passos, Bruno Bonamente, foi o primeiro a falar. Ele iniciou relembrando aos jurados a cronologia dos fatos que levaram ao assassinato de Bernardo Boldrini, detendo-se em pontos importantes para acusação, em contradições entre as provas e ao que foi dito pelos réus no júri. “Quatro pessoas extremamente gananciosas e repugnantes mataram uma dócil e indefesa criança da nossa comunidade”, disse ele acrescentando, “ hoje o Bernardo está aqui conosco, o Bê está aqui, e ele espera justiça”.
Também usaram o tempo da acusação a promotora Silvia Jappe, que atuava na comarca a época do crime, e o promotor criminal de Lajeado, Ederson Vieira, designado pela Administração do Ministério Público para auxiliar no júri.
LEANDRO>
Em sua manifestação, a promotora Silvia Jappe lembrou aos jurados que, de acordo com as testemunhas ouvidas, Bernardo não tinha roupas adequadas, não recebia lanches e perambulava pela vizinhança em busca de afeto que lhe era negado pelo pai. “Ele nem mesmo acertou a idade do filho em seu depoimento aqui neste plenário. O Bernardo não teria hoje 17 anos como disse o pai. Teria 16 anos, a idade do meu filho, que estudou na mesma escola que ele. Desde então eu trago o Bernardo comigo e, vendo meu filho, eu enxergo um pouco dele”, completou a promotora.
GRACIELE
Os promotores mostraram aos jurados as imagens das câmeras da loja onde Graciele comprou a televisão em Frederico Westphalen, após, segundo apontado na denúncia, ela e Edelvânia terem matado e enterrado o corpo de Bernardo. “Esse é o desespero de uma pessoa que matou sem querer o enteado, como alegado aqui? Esse é o desespero que ela veio aqui relatar num choro teatral, dizendo que o Bernardo ingeriu o remédio midazolam sozinho? É assim que ela age minutos depois, escolhendo uma televisão para ela e o marido?”, disse Bruno Bonamente.
EDELVÂNIA
Ao apresentar as provas sobre a participação de Edelvânia no homicídio, o promotor Ederson Vieira reiterou que ela participou do planejamento detalhado deste crime, desde que Graciele começou a se reaproximar dela. “Elas planejaram, saíram para comprar o midazolam, a soda cáustica e a pá. E nós só sabemos disso porque a própria Edelvânia confessou no depoimento que está gravado e que agora ela alega que foi ditado pela Polícia”, disse ele completando, “vejo Bernardo entrando por essa porta, pedindo alguma coisa, como ele sempre fazia. Pedindo que a justiça seja feita”.
EVANDRO
Durante o tempo de manifestação da acusação no julgamento, os promotores apresentaram áudio de interceptações telefônicas mostrando que Evandro não estava de férias como alegou em juízo ao defender que havia ido pescar em local próximo ao da cova onde foi encontrado Bernardo. "Evandro não estava de férias como alegou. As interceptações telefônicas comprovam que ele mentiu. Evandro não tem justificativa para ter sido visto naquele local, próximo à cova, dois dias antes do crime", sublinhou Bonamente.
O promotor de Justiça Ederson Vieira concluiu a acusação pedindo pena máxima para os quatro réus “na medida de sua culpabilidade” e afirmou que “Bernardo morreu porque o ser humano não alcançou a maldade deles (referindo-se especialmente ao pai e a madrasta). Ninguém acreditou que isso pudesse acontecer. Ninguém conseguiu ver que Bernardo corria risco”, disse Ederson.
Amanhã o julgamento continua com a réplica e a tréplica de ambos, acusação e defesas. A previsão da juíza é de que a sentença seja conhecida ainda na tarde desta sexta-feira.
INTERROGATÓRIO
Antes do início dos debates nesta quinta-feira foram concluídos os interrogatórios. A primeira a falar foi a madrasta de Bernardo, Graciele Ugulini. Logo na sequência, teve início o interrogatório de Edelvânia Wirganovicz. Ela foi a terceira dos quatro réus a falar e disse que responderia a todas as perguntas. Porém, depois dos questionamentos da magistrada, passou mal e foi retirada do plenário para atendimento. No retorno, os advogados informaram que Edelvânia não responderia as perguntas do Ministério Público. O quarto e último dos réus a ser interrogado foi Evandro Wirganovicz, que também não respondeu ao Ministério Público, a pedido de sua defesa.
PRESENÇAS
A presidente da Associação do Ministério Publico, promotora de Justiça Martha Beltrame, e o promotor Bill Jerônimo Scherer, membro da diretoria da AMP, acompanharam o julgamento nesta quarta-feira, 14, no Fórum da Comarca de Três Passos.
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