Espera por doação de córneas chega a um ano e meio no RS
O Rio Grande do Sul ocupa o 13º lugar entre os estados brasileiros no número de transplantes de córneas realizados anualmente, proporcionalmente à população: são aproximadamente 600 por ano, para atender a uma fila de espera de, em média, 810 pessoas. Isto sem contar outras pessoas que também dependem de uma doação, porém não estão na fila da Central de Transplantes do Estado por diversas razões, como gripes, viroses, circunstâncias que as impedem de realizar o transplante durante certo período. Se contabilizados esses pacientes, o número de gente à espera de córneas passa para mais de 1700. Os dados foram abordados pelo médico do Banco de Olhos Roberto Freda em palestra realizada no auditório do Memorial do Ministério Público nesta quinta-feira, 29. A ação foi promovida com apoio do Centro de Apoio Operacional dos Direitos Humanos, por meio da campanha “Abra as portas do seu coração: doe mais”.
“O papel do Ministério Público na defesa dos direitos humanos e da cidadania também passa pela conscientização”, afirma a supervisora do Memorial, Mauren Jardim Gomes. “É preciso que as pessoas reconheçam que essa atitude salva vidas. Doar órgãos e tecidos é uma atitude de solidariedade e cidadania”, avalia a Promotora.
A insuficiência de doações de córneas no Rio Grande do Sul faz com que os pacientes tenham que aguardar até um ano e meio pelo transplante. Conforme Roberto Freda, a ausência de informação e conscientização da população sobre o procedimento é um dos principais problemas. “Aproximadamente 30% das famílias negam a doação de órgãos após a morte dos familiares. Em alguns casos isso acontece mesmo depois de a pessoa ter manifestado desejo de ser doador”, relata o médico.
Outro aspecto apontado como causa do problema é a deficiência e falta de preparo de equipes hospitalares, especialmente do interior do Estado, que realizam a abordagem das famílias, além da falta de especialistas aptos a fazerem a retirada da córnea nos municípios mais distantes das grandes cidades.
Segundo Roberto Freda, além de fortalecer esta rede, é preciso propagar a informação sobre o tema: “Cada um de nós é agente de conscientização social e transformação da realidade, para que muitas pessoas possam voltar a enxergar”.
As córneas podem ser retiradas até seis horas após a morte do doador, que deve ter córneas sadias, com idade mínima de 3 e máxima de 80 anos. Tem indicação para se submeter ao transplante pessoas que perderam a transparência ou a integridade anatômica da córnea devido a problemas congênitos, traumatismo, queimaduras químicas, infecções, inflamações, distrofias e degenerações.