Ação do Ministério Público alerta crianças sobre consumo consciente
Em uma tarde de muito bate-papo, um grupo de 65 estudantes de 9 a 11 anos pode ouvir, trocar experiências e pensar criticamente sobre o ato de consumir. Os alunos são da quarta série da Escola Estadual Apeles Porto Alegre, que participaram do Seminário Consumo Consciente nesta segunda-feira, 15, Dia Internacional do Consumidor. A iniciativa é do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Consumidor com colaboração do Centro de Apoio Operacional da Infância e Juventude do Ministério Público do Estado. No evento, também aconteceu a premiação de um concurso de redações realizado entre os estudantes com o tema Consumo Consciente. Os autores dos três melhores textos ganharam cadernetas de poupança do Banrisul.
As crianças lotaram o auditório do Palácio do Ministério Público para ouvir especialistas e conversar sobre as próprias atitudes. Para a procuradora-geral de Justiça, Simone Mariano da Rocha, “é muito importante realizar este trabalho conjunto, entre Ministério Público e escolas, para motivar uma consciência cidadã, que será repassada em casa pelos alunos”.
A coordenadora do CAO Consumidor, Têmis Limberger, reforçou, para os estudantes, quão importante é provocar um questionamento sobre o desejo de comprar e sobre o valor que é dado ao “ter” em detrimento do “ser”. A promotora de Justiça salientou os efeitos nocivos do consumo exacerbado, motivado, principalmente, pela publicidade: “O produto disso é obesidade infantil; a erotização precoce, que depois reflete em outros problemas, como os altos índices de gravidez na adolescência; e a criminalidade, porque muitos jovens motivados a consumir não possuem condições financeiras para adquirir determinados produtos, e são levados a praticar delitos para satisfazer esta vontade”.
As crianças também falaram sobre o que aprenderam. “Consumidor consciente é a pessoa que compra na medida exata, nem mais nem menos do que vai usar”, disse o aluno Luís Fernando Braga, que compôs a mesa de debates.
EDUCAÇÃO PARA O CONSUMO
“Será que nós precisamos ser educados para consumir?”, perguntou a primeira palestrante da tarde, a educadora Lúcia Machado da Silveira. A resposta veio com certeza por parte dos 65 estudantes: “Sim!”.
O alerta da educadora foi para a necessidade de as crianças aprenderem em casa e na escola sobre a prática, como forma de proteção de todos enquanto consumidores. “É preciso ser crítico, perguntar tudo sobre o produto e não esquecer da natureza, porque o consumo excessivo também gera lixo”. Lúcia lembrou que é necessário sempre exigir nota fiscal, questionar todas informações sobre o produto que é adquirido e comprar apenas o necessário.
MÍDIA E CONSUMO
Ao serem questionadas sobre quanto tempo passam diariamente em frente à TV, as respostas das crianças foram diversas, variando de quatro a oito horas por dia. A psicopedagoga Márcia Amaral Corrêa de Moraes, que fez a pergunta aos estudantes, chamou atenção para estudos que demonstram que crianças e adolescentes não podem passar mais de duas horas assistindo à televisão e, principalmente, não fazer refeições enquanto assitem à programas de TV.
Ela também questionou sobre o conteúdo da programação e sobre quanto as crianças refletem sobre os comerciais que passam nos intervalos. “A TV abafa o pensamento. Forma consumidores inconscientes, sem capacidade de criticar”, disse a palestrante, orientando os jovens a estimular o pensamento por meio de atividades criativas, da leitura e da brincadeira.
A PUBLICIDAE
A publicitária Martina Fischer, terceira palestrante da tarde, propôs uma reflexão sobre o que é consumir e quem é o consumidor. Explicou os procedimentos da publicidade para criar campanhas que atinjam os adolescentes conforme suas preferências. “Para a publicidade, você é um número. No Brasil, sete em cada dez jovens gostam de fazer compras. E quatro em cada dez tem grande interesse pelo consumo”, relatou Martina.
Entretanto, destacou que a publicidade também tem como finalidade educar e informar. Com exemplos, a publicitária chamou a atenção dos alunos para assistir aos comerciais de maneira crítica, pois alguns também passam mensagens importantes.
A LEGISLAÇÃO
A publicidade, especialmente televisionada em canais abertos, não difere o público ao qual está sendo destinada. Assim, provoca a vontade de consumir ou de ter acesso aos mais variados produtos, tanto em pessoas que possuem condições financeiras para isso, quanto naquelas que não dispõem de recursos. Este foi o alerta da procuradora de Justiça Maria Ignez Franco Santos, coordenadora do Centro de Apoio Operacional da Infância e da Juventude. “Cabe aos legisladores criar mecanismos, por meio das leis, que protejam os consumidores e especialmente as crianças e os adolescentes”, lembrou. Segundo Maria Ignez, há sete anos está em discussão no Congresso medidas legais para controlar a publicidade destinada ao público jovem.
Ela também motivou as crianças a estimular a imaginação por meio de brincadeiras e da leitura. “Vocês estão na idade de sonhar, de criar coisas, e isso dá para fazer, por exemplo, com os livros”, disse a Procuradora.